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Em um relacionamento sério (comigo mesma)

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Não se prenda as partes de você que não se conectam mais a quem você é hoje

11jun

Por onde eu começo?

Esse título imenso é só algo que vi pelo twitter, mas que me deixou pensando… Pensando ao ponto de eu largar o celular e ficar encarando a parede fria e escura do meu quarto, por sólidos segundos que pareceram minutos inteiros. Com a aceleração atual da nossa mente, ficar 5 segundos imóvel olhando pra um espaço vazio é o suficiente pra te olharem com preocupação.

Eu mudei mais do que gostaria de admitir. Parte de mim nega isso, mas uma parte que reconheço como a que sempre tenta me sabotar. Então o quão confiável essa negativa é, de verdade?

Me sinto velha demais pra admitir que mudei. Como se houvesse idade pra isso. Me sinto velha demais pra muita coisa. Velha demais pra passar a me exercitar. Pra mudar minha alimentação. Pra mudar de carreira. Pra estudar coisas novas.

Velha demais pra mudar qualquer aspecto que uma Suelen de 20 anos já havia pré-estabelecido. Por quê?

O desconhecido. O medo de passar por algo tão terrível que chega a dar medo de imaginar. É o ponto que a gente se pega pensando “mas qual o pior cenário que poderia acontecer se eu fizer isso?” E o cenário é algo apocalíptico e totalmente não relacionado com a realidade.

O que eu preciso fazer pra mudar de vez? Eu tenho me agarrado muito nas poucas comodidades que minha vida aos 20 me proporcionava. Eram muitas aos 20, poucas hoje. Não quero soar ingrata. Mas em comparação, sim, são bem poucas.

Uma necessidade de mudar sem sair do lugar. Mas estaria mudando de verdade? Ou apenas maquiando uma dor antiga?

Eu sou covarde. Não com os outros, nunca com os outros. Mas comigo mesma. Me negligencio a cada oportunidade dada. Sou covarde.

Mas não quero mais ser.

Suelen Cosli

Eu me perdi

25nov

Eu tenho me sentido muito sozinha. Uma solidão massante, esmagadora, que aperta o peito num vácuo absoluto. Um vácuo figurativo mas que nada escapa.

Eu nunca entendi como eu posso me sentir assim estando sempre rodeada de gente. Tenho muitos amigos. Sou até zoada por isso as vezes, de forma positiva até.

“Aii a suelen é sagitariana raiz, faz amigos com muita facilidade, é cheia das amizade”, “muito a mãezona que quer juntar vários grupos num grupão só, adora essa salada de gente”.

Sempre fui assim. Então como que é isso, de uma pessoa como essa, se sentir sozinha?

As amizades são falsas? Não. Já foi muito iludida mas ja aprendeu a separar o autêntico do passageiro. As amizades são reais e são lindas.

Os relacionamentos são rasos? Não. Todos foram intensos. O atual é real. O amor existe, tem companheirismo, tem esforço pra dar certo e construir um futuro.

A família é distante? Não. Quem importa ta sempre por perto, na verdade chega a sufocar as vezes.

Então que solidão é essa quando se está rodeado de atenção? De companheirismo?

Depois de muito bater cabeça com essa pergunta, eu entendi. A solidão não vinha de fora. Vinha de dentro.

Eu me perdi de mim.

Eu to sozinha aqui dentro.

Eu sempre fui de muitas amizades sim, mas mais ainda sempre me bastei em tudo. Nunca gostei de depender de ninguém pra nada. Trabalho, estudos, viagens, sempre fiquei mais confortável sozinha. Decidindo tudo por mim e pra mim e não tendo ninguém que dependesse de mim de mim também.  Batendo no peito pra dizer “eu fiz isso sozinha, não preciso de ninguém” a sensação era muito boa. Eu sentia que podia dominar o mundo a hora que eu quisesse, que não precisaria esperar ninguém pra isso, porque eu sempre queria tudo pra já. Eu era assim.

Até que eu me perdi.

Não faço ideia do meu paradeiro atualmente. Olho no espelho e não me vejo mais. Vejo uma casca, familiar, com um certo “quê” de deja vu. Uma coisa meio uncanny valley. Mas eu não to mais ali.

E eu nem sei desde quando. Não consigo me lembrar quando comecei a me esvair.

Foi muito sutil, foi com o tempo.

E perceber isso foi como nos filmes. Quando um personagem recebe uma ligação de alguma autoridade falando que alguém desapareceu. Aquela sensação de peso descendo a garganta arrastando as entranhas junto mas sem chegar a rasgar. Alguém que significasse o mundo pra aquela pessoa desapareceu. Um filho, um marido, uma mãe. Mas era eu mesma.

Eu sumi.

E eu não sei nem onde procurar ou sequer se adianta procurar.

Se eu vou me encontrar de novo um dia.

Porque que habilidades uma casca, vazia e simples, frágil, absurdamente quebradiça, poderia ter pra isso? Porque é exatamente assim que eu me sinto.

Eu to rodeada de gente. Pessoas que me amam, e que se preocupam comigo, e eu me preocupo com elas também. To rodeada de coisas. Que eu usava, que eu pretendo usar um dia, que eu não quero mais usar porque ja não me identifico. Ou talvez eu – a casca – não se identifique.

Eu me sinto sufocada na bagunça que eu mesma criei, e a única pessoa que pode mudar isso sou eu mesma. Mas eu não to mais aqui.

Então eu permaneço imóvel, vendo tudo acontecer, esperando sem saber que eu magicamente volte pra mim.

Esperando. Apática, sem ver sentido em nada. Nada faz sentido na minha vida se eu não estiver aqui pra fazer ela andar. Eu to no banco do passageiro de um carro parado no acostamento, sem motorista. E eu não sei dirigir.

Eu não faço ideia de onde eu possa estar.

E eu nunca senti tanto a falta de alguém na minha vida quanto eu to sentindo de me ter agora.

Por que eu me abandonei?

E pra onde eu fui?

Suelen Cosli

Em um relacionamento sério (comigo mesma)

01abr

Saudades de escrever aqui! Quem acompanha o blog do início sabe, que esse espaço é pra ser muito mais que cabelo e look do dia. Mas com o crescente desinteresse geral na blogosfera, acabei me deixando levar pelo momento e deixei de fazer o que eu mais gosto pelos motivos mais errados, que era simplesmente a audiência. Sendo que UM único leitor de um texto meu vale mais do que 100 leitores pra postagens de make. <3 E o texto de hoje é pesadinho viu, mas se tem um lugar que eu sei que posso me expôr, esse lugar é aqui, com vocês. Vamo que vamo!

Nós nunca estamos concluídos. Um adolescente pensando no primeiro piercing não está concluído. Um idoso centenário em seu leito de morte não está concluído. Estamos em constante evolução mesmo quando não há mais tempo pra evoluir, e isso é natural. E é aí que eu quero entrar: o tempo.

Faz pouco mais de um mês que eu terminei o que pode ser definido como meu relacionamento mais sério e real até hoje, e que durou, por vezes queridos e por vezes tortuosos, 7 anos. Sete anos é um período de uma vida. É o tempo suficiente de uma criança estar no ápice do seu aprender sobre o mundo e sobre como ele funciona. E semelhante a uma criança, foi exatamente isso que esse período nos trouxe; crescimento.

Não vou fazer mais um texto cheio de indiretas, cheio de mágoas, cheio de conversa rasa. Pelo contrário. A realidade é, eu era uma adolescente com cabeça de criança quando comecei a namorar o Hélio, e ele não era diferente. Entramos na fase adulta juntos, passamos a aprender como tudo funciona juntos, caímos e levantamos juntos. Foi como uma faculdade longa sobre como existir na sociedade, e como todo curso universitário, uma hora a gente se forma e a deixa. E todo o aprendizado? E a pessoa nova que você se torna sem nem perceber? Ela segue. Com o canudo na mão.

E continuamos evoluindo depois do fim, agora com mais gás e com uma visão de mundo totalmente diferente. Em todo esse período durante e depois do namoro, eu percebi uma metáfora que se encaixaria perfeitamente; se um relacionamento longo é uma faculdade, a fase solteira depois é uma pós-graduação. HAHA!

Nunca paramos de crescer, e pensa só, como isso é sensacional! Por vezes temos alguém pra segurar nossa mão no processo, e eu não vou dizer que isso é sempre bom. Porque alguns golpes de realidade teriam poupado nós dois de muita queda mais perto do final. Mas quem sabe? Talvez tenha sido exatamente como tinha de ser. Sem tirar nem pôr. Acho que nunca iremos saber.

Se existe uma forma “boa” de terminar um relacionamento, sem dúvida é a mais consciente possível. Consciente de que um cumpriu seu papel na vida e crescimento do outro, e que sem isso hoje seríamos pessoas completamente diferentes. Se hoje eu estou feliz comigo mesma, é sem dúvida por conta dos últimos sete anos.

Obviamente não foram tudo rosas. Afinal são SETE anos. A fase das rosas acaba no máximo nos 6 primeiros meses, dependendo do casal. HAHA! Mas se tivesse sido tudo tão bom o tempo todo, sem dúvida, não teria sido real, e não teria servido de nada no final. Deixa eu contar pra vocês, que a zona de conforto, é uma coisa perigosíssima pro nosso bem-estar mental. É um capirotinho que fica ali no cantinho do quarto te vigiando 24/7 se certificando de que você não vai fazer nada que o ameace. Resultando em muitas das minhas crises de ansiedade no dia-a-dia, claro. A zona de conforto, dã, é confortável sim. Tão confortável quanto se deitar num bote com um fone de ouvido e uma trilha sonora bem gostosinha, apreciando o céu azul no meio do rio.

Exceto que o bote tá furado. Mas você já sabe disso, assim como sabe também que lidar com isso vai te causar muito estresse, então é melhor ignorar.

Nós terminamos quando já estávamos com a água do rio pelo pescoço. Eu só estava me machucando, e ele estava se machucando por se importar em estar deixando eu me machucar. Porque várias vezes fomos a causa um do outro desses machucados perto do final. Toda a nossa dinâmica podia estar a merda que fosse, mas abandonar o barco parecia uma ideia absurda.

Quando na realidade, é a única forma de nadar até a margem. E você já tentou nadar de mãos dadas? É difícil pra burro. O mais certo era que os dois iriam morrer afogados. O que fazia mais sentido era soltar o outro. E foi o que fizemos. Nos separamos, juntos.

Óbvio que foi bem difícil. Sair da zona de conforto, sendo uma pessoa extremamente ansiosa e depressiva, chegou a me deixar doente. Nos primeiros 3 a 4 dias eu não saí da cama pra nada. Nem pra comer, nem pra tomar banho, eu nem lembro se usei muito o banheiro, porque não tinha nada no meu corpo pra ser expulso (ou assim eu pensava, mas mais sobre isso mais pra baixo). Eu sobrevivi basicamente a base de água de coco que a cuidadora da minha avózinha basicamente me obrigava a tomar. No quarto dia eu concordei em comer um pão francês com queijo e presunto que ela fez. Mas eu ainda não queria sair do meu quarto.

Nesse meio tempo sucumbi a muitos clássicos; conversas cheias de sentimento e mágoa e lágrimas e tudo que tinha direito, todos os dias, com ele e com a tia dele (que sempre foi meio que minha sogra) HAHAHA, crises de choro sozinha e por áudio com alguns amigos, uns antigos, uns mais recentes, mas todos extremamente presentes, mesmo de longe. Teve ainda, quando comecei a sair de casa, os episódios classiquíssimos dentro do carro ouvindo marília mendonça e chorando igual uma condenada (quase morri batendo o carro umas 6x HAHAHA rindo com respeito). Enfim. Eu to rindo agora, mas na época – que durou as primeiras duas semanas – foi bem intenso. Deixei muita gente preocupada demais, e dessa parte me arrependo, apesar de que foi realmente inevitável. Contudo, gosto de pensar nessa fase como sendo aquele primeiro momento de realização de que cheguei na margem sozinha, quando estava acostumada por anos a ter uma pessoa especial segurando minha mão. A solidão. O medo de estar sozinha.

Nós criamos uma dependência nada saudável um no outro. Houveram vários momentos em que não conseguíamos trabalhar, estudar, nada. Não sabíamos na época, mas tudo tava diretamente relacionado ao estado que nosso relacionamento estava. E é muito louco como a gente não percebeu nada.

O término foi num domingo de manhã. Não… Na verdade foi na sexta a noite. No sábado a noite rolou todo o medo e desespero, e acabamos voltando, decidimos “continuar tentando”. Prometemos fazer terapia de casal, conversar mais, rever onde cada um poderia ceder em todos os campos competentes. Tentar mesmo.

Mas daí, no domingo de manhã. Ah, o domingo de manhã… Nada como uma noite em claro pra colocar tudo em perspectiva, botar os pensamentos em ordem. O resultado, vocês já sabem. Essa próxima parte do texto é um pouco pesada, penso eu, mas peço que tenham paciência e estômago e não desistam de mim ainda.

Eu tentando organizar azidéia, aqui representadas por um pisca-pisca de fio de cobre emboladíssimo HAHA

Acabamos terminando pela segunda vez, e agora definitivamente, via whatsapp. Acho que pessoalmente teria sido difícil demais. Teria sido difícil da forma que fosse, na verdade. Não tem como abandonar um porto seguro ser fácil. Mesmo tendo plena consciência de que isso era necessário pra conseguir alcançar a próxima fase da minha vida adulta; ser o meu próprio porto seguro.

Logo depois da mensagem final, eu tive que enfrentar uma situação rotineira na minha casa, que é a de apaziguar brigas entre minha mãe e meu padastro. Normalmente, eu o fazia sem muitos problemas (fora o estresse emocional), mas dessa vez foi absurdamente diferente. Subi a escada, cheguei na porta aberta, olhei para os dois, abri a boca pra passar um sermão e… Travei. Não consegui respirar. E por fim, vomitei. Bem na entrada do quarto.

No outro dia, fiz minha primeira visita a uma psicóloga. Eu cheguei lá um caco. Um verdadeiro navio naufragado nas minhas próprias lágrimas. O olhar da psicóloga era tão triste e iluminado que servia quase como um espelho, o qual eu evitava olhar por medo do que poderia enxergar. A forma que ela me olhava enquanto eu desabafava sobre tudo que havia acontecido, era como um reflexo doloroso do que eu já sabia; que eu parecia um animal ferido na beira da estrada. Algo que normalmente eu sempre passei por cima de tudo e até de mim mesma pra conseguir salvar. Eu já estava acostumada a me negligenciar em prol de ajudar os outros. Mas e quando quem precisava da minha ajuda era eu mesma? Eu não sabia o que fazer. Eu estava sozinha pela primeira vez em anos, e tudo era extremamente assustador e sufocante.

Na manhã de domingo, eu não consegui ajudar meus pais a se entenderem como sempre fiz. Foi a primeira vez que fui fisicamente e mentalmente incapaz disso. Desci a escada com a ajuda da Iona e vomitei do topo dela também. Mas não saía nada minimamente palpável. Mais tarde, na psicóloga, vim entender que esses episódios foram respostas do meu organismo á dor psicológica massante que eu estava sentindo. Meu corpo precisava de qualquer forma expulsar aquela dor toda pra fora. Era uma dor psicológica que se manifestava como física. E essa foi a forma que ele encontrou. Nossa mente e nosso corpo são coisas muito loucas, não? Nunca deixo de me impressionar.

Eu me senti infinitamente mais leve depois da consulta com a psicóloga. Se tem uma coisa que vou recomendar pelo resto da vida, é essa. Vá a um psicólogo quando não estiver bem. Psicólogos e terapeutas são um tesouro nacional e nós não os merecemos. Eu voltei lá mais uma vez na mesma semana, mas depois não voltei mais por motivos de dinheiros, infelizmente. As duas vezes no entanto me fizeram avançar no processo de cura natural em uns 80%, mas sem pular nenhuma etapa, apenas comprimindo o sofrimento num tempo mais curto. Não sei como eu estaria hoje se não tivesse me rendido aos cuidados de uma profissional. Obrigada Dra. Juliana. <3 Ah, o Hélio também iniciou tratamento com uma terapeuta (que ele continua indo), e posso atestar que ele também nunca havia se entendido tanto como agora. E como nos compreender influencia em todos os campos da nossa vida. Como é importante!

Voltamos a nos falar mais normalmente aos poucos depois de algumas semanas. O que foi estranho, é que a parte física, os beijos, o carinho, etc; de nada disso eu sentia falta. Mas eu sentia muita falta de ter uma pessoa pra mim com quem pudesse contar pra tudo. Pra quem eu pudesse contar tudo. Eu não sentia falta do meu namorado. Sentia falta do meu melhor amigo, que coincidentemente ou não, era meu namorado. Fiquei um pouco aliviada quando percebi isso semanas depois. Senti que mesmo doendo naquele momento, eu ia conseguir seguir em frente dentro de algum tempo.

Acredito que já estamos em plena paz um com o outro, apesar de nos falarmos bem pouco. Ainda mais quando já acostumados a se falar e se ver todo santo dia durante sete anos. Deixar isso foi um baque danado. Mas a forma que eu saí dessa pancada depois, foi uma surpresa e tanto. Eu passei a prestar mais atenção em mim.

Eu passei a me dar mais atenção, a ouvir mais o que eu mesma tinha a dizer sobre como eu estava me sentindo e o que isso significava. É até difícil de explicar. Mas acho que essa é a melhor forma que encontrei. Eu passei a me entender melhor.

O que, acreditem ou não, resultou numa diminuição feroz de crises de ansiedade e de depressão. Resultou numa força de vontade incrível em ser melhor pra mim mesma, de me cuidar mais, de me preocupar mais em como EU me sentia mais bonita e vice-versa. Eu meio que descobri que sempre vivi num universo X, e agora eu era meu próprio universo. Mais de um mês depois eu sinto que já me basto. Que estou num relacionamento sério comigo mesma.

Meu relacionamento com o Hélio foi incrível. Foram sete anos de puro companheirismo e apoio de todo tipo, que acabou terminando por ter evoluído, naturalmente, de uma paixão adolescente… Pra uma amizade verdadeira. E tem forma de amor mais sincera do que essa?

Pra tristeza da nação (nossos amigos e familiares HAHAHA), não, nós não pretendemos voltar. Sentimos que cumprimos com maestria nossos papéis na vida um do outro. E que graças a isso, podemos “nos formar” nessa fase do início da vida adulta, e começar uma fase totalmente nova. Separados, sim. Mas pensando bem, separados sempre estivemos, só somos condicionados a viver em constante negação disso (falando da falácia da metade da laranja, quando deveríamos ser uma laranja completa por nós mesmos.). Como um amigo me disse uma vez, enquanto eu ainda estava deprimida: “Nós nascemos sozinhos. Nós morremos sozinhos.” podemos ter companhias maravilhosas ao longo da vida, mas no final do dia, precisamos estar bem estando sozinhos. Precisamos estar de bem com nós mesmos. Condicionar nossa felicidade pessoal á outra pessoa é extremamente injusto com ela, e desastroso pra nós mesmos.

E foi isso que eu aprendi com o meu término de namoro.

Agora me encontro feliz e plena comigo mesma como nunca me senti antes. É tudo muito estranho, muito novo, e muito excitante. Toda vez que faço algo sozinha, que normalmente dependeria de outra pessoa (até mesmo ir no banco, morria de medo de ir sozinha aaaaa), por mais simples que seja a tarefa… É muito bizarro! Eu fico me sentindo a mulher maravilha só por dirigir pra casa sozinha a noite, com as minhas músicas nas alturas, e fazendo ‘golfinho’ com a mão pra fora da janela. HAHAHA!

Moral da história

Os conselhos da noite ficarão sendo:

  1. Visite um psicólogo quando estiver se sentindo mal.
  2. Preste mais atenção ao que seu corpo tenta te dizer diariamente.
  3. Saia pra dar uma volta de carro de madrugada só com você mesmo e suas músicas favoritas.
  4. Desconstrua a ideia de que você não pode ser feliz sozinho.

Obrigada a todo mundo que leu até aqui. Quero aproveitar pra anunciar que o divã da mini-suu está de volta pra quem quiser conversar.

Prometo não decepcionar.

Eu amo vocês! <3

Beijos!

PS: Todas as fotos maravilhosas do post são obras de arte da Caroline Lins! <3

Suelen Cosli

2015: 7 coisas boas, 7 coisas ruins, 1 lição

30dez

Nessa semana que passou, a Bru me marcou em uma tag bem legal de se fazer no final do ano (inclusive incentivo a todos a fazerem também), que é a 15 coisas legais que aconteceram em 2015.
Porém, eu decidi dar uma mexida no conceito pra se adaptar a minha vida pessoal, e dividi esse número pela metade (quase) pra tomar outra direção. Depois de pensar bastante se deveria ou não.

Pra quê ficar relembrando as coisas ruins? Supera, que tal?

Quem conhece a ruiva que vos fala, deve entender que ela melhor que ninguém sabe, que não é bem assim. Prometo que, no final do post, vou deixar bem claro o motivo dessa tag modificada dessa forma.

Ah! Não vou colocar nada em perfeita ordem cronológica, ok?
Vamo que vamo!

  • Nicole e mika viraram estrelinhas

Primeiro, foi a Mika. Uma hamster de cores clarinhas que fazia minha alegria todos os dias quando acordava estupidamente cedo pra ir pro trabalho, e quando voltava cansada depois de horas de trânsito no final da tarde. Gostava de correr pela extensão dos meus braços e comer frutinhas. Ela faleceu de velhice + uma inflamação no queixinho (que segundo a vet, surgiu por conta da velhice mesmo), e no final da tarde me vi assinando uma autorização de eutanásia pra que ela parasse de sofrer. A Nicole faleceu exatamente uma semana depois. Minha poodle que já me acompanhava faziam quase 11 anos, amor do meu viver. Infelizmente foi afligida por câncer no fígado e síndrome de coração expandido e também sofreu um pouco ao deixar a gente. Isso foi em Janeiro. Mas até hoje dói lembrar e falar sobre, acho que sempre vai doer. Mas me orgulho em dizer que não saí de perto dela em momento nenhum e que meu rosto inchado e vermelho foi a última coisa que ela viu antes de ir.

  • Adotei o Lito

Me afundei um pouco mais na depressão com a ausência de dois pets amados de uma só vez. Chegou a um ponto em que chorava TODOS os dias, com alguns ataques de pânico e vice-versa. Até que chegou a mim um caso que normalmente jamais consideraria; um gatinho de 5 meses. Na realidade ia apenas dar carona pra ele pro seu lar temporário, mas no caminho rolou alguma coisa que não sei se foi carência, se foi um grito de desespero do inconsciente, ou se foi amor a primeira vista mesmo. Mas fiquei com ele pra mim. Hoje em dia não consigo mais me ver sem Lito, que provou pra mim e pra toda minha família descrente que gatos são sim carinhosos e Lito em especial demonstra isso o tempo todo, haha <3

  • Vó diagnosticada com alzheimer

Já há alguns meses eu notava que algo diferente tava rolando com a minha avó, a quem eu conheço bem demais pois foi quem me criou e é com quem eu moro até hoje. O diagnóstico veio em Janeiro, mas algo em mim já confirmava esse mal fazia tempo. Nunca parei realmente pra prestar atenção (“é só a velhice, é normal” era o que eu me dizia) até sair do meu emprego e voltar a passar o dia todo em casa, quando pude perceber a mudança de hábitos dela. A convivência ficou extremamente complicada e me afundou um pouquinho mais na depressão, porque no início eu cuidava dela sozinha (atualmente tem minha mãe e meus tios aqui :’) então it got better) e como sabemos a doença não tem cura e a piora é gradativa porém veloz. É também o motivo de eu não ter mais pego nenhum outro emprego fora de casa.

  • Tomei coragem e fiz o BC

Cheguei numa fase em que apesar da ansiedade e aversão a mudanças, do jeito que tava não queria mais ficar. Como a depressão não me deixava emagrecer de forma saudável (uma semana de academia era meu limite), optei por outra forma de mudança que acabou sendo uma das melhores decisões do ano; fazer o temido BC (big cut = ou, cortar toda a parte com química do cabelo pra voltar aos cachos naturais). O resultado é o que vocês vêem sempre por aqui. Uma Suele mais leve e saltitante sem medo de bagunçar a moita. <3

  • Desligada do emprego

Isso foi bem no início do ano, e foi o que me fez realmente me ligar e acreditar no que todo mundo vinha dizendo; a crise pegou o Brasil de jeito! Pois a alta do dólar na época fez não só eu, como meu setor inteiro (incluindo meus superiores) e mais uma parte de outro setor maior serem desligados da empresa. O mesmo aconteceu em vários outros lugares do distrito industrial onde eu trabalhava já há dois anos. Foi bem triste, pois era algo que eu gostava de fazer (ilustrar pra conteúdos didáticos infantis) e com toda a situação em casa não deu pra pegar outras oportunidades que surgiram em seguida, e foi quando eu realmente botei quente nos freelas de ilustração que chegavam a mim pelo blog, como faço até hoje.

  • Viajei mais em um ano que na vida inteira! (E conheci muita gente no caminho)

Isso é um fato curioso, porque como assim sai do emprego e começa a viajar? HAHA Não contavam com a minha astúcia! Pois durante o período trabalhado eu e Olhos Verdes mantínhamos uma poupança pra ir pra Disney esse final de ano. A Disney não rolou porque o dólar ficou absurdo demais com o tempo, e ao invés disso visitamos São Paulo duas vezes, Rio Grande do Sul (nesse eu fui sozinha), Curitiba e Rio de Janeiro. <3 Valeu a pena? Demais! Pois pude conhecer pessoalmente um bocado de gente linda que já queria conhecer fazia tempo!

  • Hate e mais hate na internet

Ah! O ódio gratuito da internet. A forma que a nossa geração, que porventura tem acesso fácil a internet, encontrou de extravasar os sentimentos mais infantis e primitivos sem olhar a quem ele afete ou como afete. No meu caso, como alguns dos que estão lendo devem se lembrar, na época em que ganhei o concurso da Bruna (<3), todas minhas redes sociais foram inundadas com mensagens de ódio mal direcionadas; ficaram bravos por eu ter vencido, mas criticaram mais meu cabelo/meu peso/minha aparência num geral, do que de fato questionar o porquê de eu ter vencido. Até hoje fico assustada e só consigo imaginar o que as vítimas recorrentes de cyberbullying devem passar. Dica pra 2016: sejem menas, bem menas.

  • Fui pra Inglaterra com o Olhos Verdes e conheci a Bruna.

Sem dúvida um dos pontos altos do ano. Sejamos sinceros aqui eu e você, nunca imaginei que conseguiria viajar pra fora do país sem anos de preparo financeiro (como tava sendo a viagem pra Disney que no final nem rolou), e quando rolou o concurso do Depois dos Quinze eu nem mesmo botei fé que teria chance de ganhar. Até hoje na verdade parece que foi um sonho. Mas não foi e to cheia de foto pra provar. Haha! PS: Me apaixonei por Brighton. Obrigada Kipling, obrigada Bru. <3

  • Três gatinhos recém-nascidos abandonados numa caixa

Poucos meses atrás tive mais uma provação diária em lidar com o fato de que sou da mesma raça que outros seres humanos, que não se incomodam em cometer das mais diversas atrocidades. A da vez, foi descobrir pela minha tia que tava passeando com o cachorro durante uma das horas mais quentes do dia, que alguém havia largado uma caixa com três gatinhos de no máximo uma semana de vida na rua de cima. O vizinho disse que eles haviam sido abandonados na noite anterior, em um saco plástico amarrado. O vizinho então os colocou numa caixa pra respirarem. Não sei ainda o que pensar disso, mas enfim. Não vi outra opção que não correr até onde eles estavam pra ajudar de alguma forma.

  • Adotei três gatinhos recém-nascidos

Eis que o “ajudar de alguma forma” foi de uma dolorosa ida ao veterinário assim que os encontrei pra mais de um mês fazendo o papel de uma mãe-gata, o que envolvia alimentação por mamadeira de 3 em 3 horas e higienização da mesma forma. Foi extremamente cansativo, por várias vezes me desesperei achando que algum não iria sobreviver por terem chegado a mim tão novinhos e debilitados. Mas todas as noites sem dormir valeram 100% a pena porque hoje dou teto comida e amor pra 4 gatinhos, que preencheram mais um pouquinho o vazio que ainda ta aqui desde a perda da Nicole e da Mika. Comprovei também que animais de estimação fazem maravilhas por alguém com depressão, viu? <3

  • Depressão

Falando na bendita. Contei pela primeira vez aqui no blog sobre ela no post do concurso da Petite Jolie, onde devíamos falar sobre otimismo e eu o fiz da minha maneira, ou da única maneira que sabia, que era o esforço diário de se manter otimista mesmo possuindo depressão. Os comentários naquele post até hoje me fazem chorar muito, de tão íntimos e sinceros que foram. Um dos melhores, senão o melhor post do blog, com certeza. Porém, longe de mim tentar glamourizar uma condição tão séria e que afeta tanta gente (mais gente do que vocês imaginam, inclusive), por isso repito o que disse no post; você não está sozinho. Quando te dizem pra simplesmente “tentar e melhorar”, é ofensivo sim e machuca sim. Não é algo que se queira ter, não é algo fácil de ter. Por isso, vamos procurar tratar todo mundo com humanidade (ou seja, sem ódio gratuito), porque ninguém tem como saber pelo que cada pessoa passa em segredo, e uma atitude babaca sua pode fazer um estrago muito maior do que sua consciência aguenta. #maisamor

  • Fui pra semi-final da We Love Fashion Blogs

Ter mais essa conquista no mesmo ano foi algo surreal (e viajei de novo! Haha <3). O carinho e atenção aos mínimos detalhes que a Petite Jolie proporcionou ás dez semi-finalistas do concurso foi apenas incrível! Inesquecível mesmo. Mas o mais marcante mesmo foi ter conhecido pessoalmente tanta gente maravilhosa, o que só prova que as experiências pessoais passam maravilhosamente das materiais. Sou eternamente grata e recebi um gás incrível pra continuar com o blog por esse reconhecimento. <3

 

  • Debilitada durante todo o aniversário

Ô perrengue que foi esse Dezembro, viu? Em termos de viagens foi maravilhoso, mas de saúde… Serviu de “wake up call” pra me lembrar que sim suele, tu ainda tem gastrite! comi muito mal durante a viagem e adoeci do estômago, depois gripei, depois juntou tudo numa massa doente que até me impediu de embarcar no vôo de volta pra Manaus, voltando de Curitiba. Passei o dia todo indo e voltando do ambulatório do aeroporto, com pessoas me olhando com cara de “segura essa menina que ela vai desmaiar”, e tuuuudo rolou bem no dia 17, diazinho em que completei 25 anos de vida. Não tava fácil. Passei o dia doente e deprimida ao extremo por isso. 🙁 Eu só queria chegar em casa…

  • Aniversário surpresa nas últimas horas do dia

Eis que chego em Manaus as 22:00 mais ou menos (se fosse no primeiro vôo previsto, tinha chegado aqui ás 13:00 🙁 perdi o dia todo no aeroporto mesmo.) e um amigo nosso vai nos buscar no aeroporto pois pelo horário os tios do Olhos Verdes já não podiam mais. Ou era o que me fizeram acreditar. Na real, cheguei na casa do Olhos Verdes (com a desculpa de que antes de me deixar em casa, esse nosso amigo queria ver o novo Batman do Hélio), e BUM na varanda do nada quase todos meus amigos escondidos na surdina equipados de um banquete italiano (que eu não comi porque tava doente. Mas ok). Tudo bem, passei o resto da noite dopada de remédios e nem consegui reagir direito á surpresa porque tava tudo meio embaçado. Mas te contar. Pra quem tava tendo um dos piores dias do ano, o pulo que ele deu de uma hora pra outra como sendo um dos melhores, foi absurdo. Sim, mesmo com a aniversariante meio dopada que perdeu a festa toda, ainda sei que os amigos se divertiram e isso que importa pra mim. <3

Bom. É isso. Esse foi meu 2015 em perspectiva.

O décimo quinto item, é a lição que quero deixar com vocês, tirada de tudo isso que aconteceu, e o motivo de eu ter preferido alterar a tag dessa forma.

Todos temos altos e baixos.  Nem todos demonstram. Alguns querem muito falar, gritar pros sete ventos, pedir ajuda, mas por medo de incomodar acabam guardando pra si mesmos. Alguns se dão bem dessa forma. Outros não.
Não é algo só de 2015, todo ano é a mesma coisa. Acaba logo ano, to em 2015 desde 2010, olho pra 2015 e só quero agradecer que acabou. E vice-versa. E se tem alguma coisa que aprendi esse ano com tantos trancos e barrancos, é que não é porque coisas ruins aconteceram, que coisas boas não vão acontecer também. Felicidade não é exclusividade de quem é feliz o tempo todo. Ninguém é feliz o tempo todo. Então não se sinta mal se você não teve um 2015 perfeitinho. Não tem problema.

Por isso, valeu lembrar a mim mesma nesse post, que esse ano teve alguns momentos obscuros mas mais importante ainda é lembrar que apesar disso, ele não deixou de ser especial por tantos momentos bons. E que no final, fizeram valer a pena.
Dito isso também quero convidar a Karlybeth, a Gabriela, a Luana, a Gabi, a Mayana, a Chay e a Mônica pra fazer essa tag. Não precisa ser a minha alterada se não quiser, pode ser a 15 coisas boas hahaha <3

Então nada de grosseria ou hostilidade com 2015. Tenho certeza que ele fez o melhor que pôde. Vou apenas dar um tchau camarada, um aperto de mão cortez, agradecer pelas coisas boas, e pelas lições tiradas das coisas ruins.

Agora sim, pode vir 2016.

Suelen Cosli

Uma faísca positiva | #WLFB3

01out

Como muitos por aqui já devem saber, fui selecionada para o top 100 do concurso/gincana deste ano da maravilhosa Petite Jolie em parceria com a Zattini, o We Love Fashion Blogs 3. E o primeiro desafio? Um post aqui no blog contando pra vocês como eu me mantenho otimista!

Antes de mais nada, vamos acertar o clima do post; dá play na playlist abaixo, que eu montei especialmente com algumas das minhas músicas favoritas pra ouvir quando to me sentindo pra baixo. A ordem também foi organizada com cuidado, indo do mais sensível (e que vai combinar lindamente com as fotos do post), pro que mais me coloca num humor bem pra cima de cantar gritando no meu quarto. <3

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Então, vamos lá. É curioso escrever tanto aqui pro blog como vou escrever agora, por mais que eu adore escrever, vocês já notaram que não tem muito disso por aqui. Porque por mais que eu tenha começado o RDN como um blog 20% pessoal e 80% utilidade pública, esses 20% meio que se perderam no meio do caminho, porque eu costumo achar que ninguém vai se interessar em ler sobre a minha vida (não que não seja interessante, mas na matéria de novela mexicana, posso atestar que tem melhores no SBT) e portanto meu urge de agradar quem lê me impede de entrar nesse assunto por aqui. Mas hoje, aaaaaaah hoje. Vocês vão conhecer mais da tia Suh do que muita gente que me conhece até pessoalmente. Especialmente pelo projeto fotográfico que acompanha o texto, que fiz com o Olhos Verdes especialmente pro tema.

E quando eu estava pensando em como ia elaborar esse post e suas fotos, me veio uma verdadeira epifania… Eu não sou uma pessoa otimista. (Insira aqui som de madames burguesas agarrando suas pérolas em choque) Mas dada a minha vida diária dentro de casa e no convívio familiar, eu luto todos os dias pra inserir otimismo e energias boas onde couber e onde convir, porque é só isso que consegue me manter em movimento, mesmo que nem sempre eu consiga fazê-lo. E é exatamente disso que se trata a temática obscura porém mágica das fotografias.

Como não sei se todo mundo vai compreender o motivo da temática escura das fotos, eu vou simplificar; o cenário escuro é a representação da minha psique emocional, que sofre de picos de depressão e ansiedade. As luzes representadas são as faíscas de otimismo e boas energias inseridas por mim mesma no meu dia-a-dia, que embelezam, consolam e adicionam leveza a tudo que iluminam, facilitando a convivência com essa alma trevosa e gótica que Deus me deu, já que me livrar dela não é uma opção. Acredito que não tem representação mais perfeita do meu estado de espírito constante, então, aproveitem as fotos e tenham a certeza de que olhar pra elas, é olhar dentro da tia Suh de uma forma bem íntima.

E sabendo que (infelizmente) to longe de ser a única por aí nesse tipo de situação emocional constante, acabou que a ideia realmente pode vir a ser de alguma utilidade pra você, floquinho, que também tem um pouco de dificuldade em ver além do nevoeiro e já tentou outras receitas de bolo pra conseguir atingir esse estado de espírito, porém, sem sucesso. Pois não desista ainda porque aqui vou fazer um DIY psicológico bem bacanudo pra você praticar e hopefuly começar a enxergar todas as cores do arco-íris. 

Mas tia Suu, uma das coisas que são mais claras do Rosto de Neve é a forma irreverente/engraçada/pateta com que você escreve. COMO ASSIM você não é otimista?

Minha personalidade sempre foi essa mesmo, a abestalhada pateta com alter-ego de adolescente emogótica de sitcom americano, que sente uma alegria imensa em fazer outras pessoas rirem e com o tempo acaba fazendo isso sem nem perceber, e quiçá se eu estiver num dia muito bom, fazer até esses receptores esquecerem um pouco dos problemas do dia-a-dia. Provavelmente é um tipo de mecanismo de equilíbrio e empatia, já que esquecer um pouco dos problemas de vez em quando pra aliviar a carga do stress diário é uma coisa fundamental pra sanidade de algumas pessoas. E por algumas pessoas, eu quero dizer eu, aham. E também, infelizmente, é sabido que as pessoas mais visivelmente engraçadas e de bem com a vida, são secretamente as mais tristes longe dos olhos alheios. Por isso, é importante sermos bons e gentis com todo mundo, pois não dá MESMO pra saber pelo que cada pessoa passa somente pelo que ela deixa passar em público.

Quero já me desculpar de antemão se esse post, que supostamente deveria ser um poço clichê de energia positiva e arco-íris duplicados, acabar parecendo meio melancólico. É natural, já que as dicas aqui são pra ajudar uma fração específica dos leitores, que são aqueles que não conseguem ver o lado bom de tudo tão facilmente, seja por problemas pessoais ou condições psicológicas intrínsecas em si mesmos. Pensando nisso, eu acredito que até o final desse post, você que está lendo e tem estado debaixo de uma nuvenzinha escura, vai se sentir melhor e até | pre-para | mais otimista!

Eu gosto de pensar que o otimismo não é uma força absoluta. Até porque se fosse, ele funcionaria em todo mundo, sem exceções. Mas não,  ao parar pra analisar o lado abstrato dele, eu concluí que penso no otimismo, o pessimismo, o niilismo, enfim, todos os ismos como faíscas de ignição, que agem de forma diferente dependendo do -veículo-. (Aloka se metendo a usar metáfora de carro quando não sabe nem abrir o capô do próprio) Então, vou listar aqui algumas faíscas que tem funcionado pra mim na situação em que me encontro, e que talvez até funcionem pra você, que também tem enfrentado alguns barrancos;

Abraço peludo

Vocês lembram no início do ano, quando a Mika virou estrelinha após dois longos anos de vida de hamster, e uma semana e um dia depois, minha poodle amada Nicole de 11 aninhos também acabou seguindo a colega ratuda depois de uma batalha árdua contra o câncer? Pois é. Até então, quando a coisa ficava complicada e eu perdia a vontade de sair da cama, bastava um cheiro no cangote da Nicole ou um beijo na barriga que enfurecia a Mika, pra renovar as energias e abrir os olhos pra sim, coisas ruins acontecem. Mas eu dou um jeito. Pra tudo se dá um jeito. 
Eu só percebi como esse fator do amor animal era tão importante pra minha psique, depois que eu já não tinha mais isso. Que foi quando eu entrei numa depressão absurda, que pra ser sincera até hoje não consegui sair por completo. Por sorte, agora tenho há dois meses um gato gordo pra afundar a cara na esperança de recuperar o sorriso quando a coisa aperta. Já abraçou seu peludo hoje?

Colo do melhor amigo

No meu caso, meu melhor amigo é o Olhos Verdes mesmo, não tem jeito. Dito esse tópico como melhor amigo e não como namorado porque o título da pessoa não importa, mas sim o nível de apoio que você tem nela. E muitas vezes, infelizmente, não temos essa energia positiva disponível dentro da família. Quando você tem uma pessoa que genuinamente te quer bem, um chamego ou abraço dela te passa uma luz interior quase que por osmose. Já abraçou seu melhor amigo hoje?
Isolamento sonoro


O nome é chique, mas eu to falando de ouvir música. Sério, só isso.
Música no meu caso é algo que realmente me move, é uma forma mais agitada de meditação. Inúmeras vezes já me peguei num bloqueio criativo ou mesmo de energia, sem conseguir sair da cama por pensar que o dia seria de cão. Nessas horas, é altamente recomendado colocar um fone de ouvido bem maneiro e tocar músicas que te dão gás. Que abrem várias portas na sua mente e a expandem, só de estarem tocando tão pertinho. Inúmeras vezes eu já quis desistir de algo por estar com absoluta certeza que tal coisa ia dar errado, e ouvir alguma das minhas músicas favoritas me faziam esquecer um pouco essa sensação e a substituía por vontade de tentar. Quem é louco por música como eu, entende exatamente do que eu to falando. E não apenas ouça, escute a música! Reflita sobre a letra, imagine o embalo da melodia, crie histórias na sua mente com essa música como trilha sonora. Já ouviu e cantou gritando seu 4 Non Blondes – What’s up hoje?
Se afastar de pessoas tóxicas

Da mesma forma que podemos ter na nossa vida pessoas que vão dividir seu otimismo e boas energias com a gente, existem também outras que tão ali especialmente pra fazer o contrário. Mas como identificar?
Uma pessoa tóxica:
  • Te coloca pra baixo, tira seu mérito quando você cumpre alguma tarefa
  • Tem prazer/não sente remorso de falar coisas nocivas sobre outras pessoas (vide tópico pessoas racistas/homofóbicas/machistas/etc)
  • Regorgizam da falha de outras pessoas com quem elas não se dão
  • Te manipula de forma sutil pra colocar as necessidades dela acima das suas
  • Faz uso de chantagem emocional pra manter a “amizade”
  • Te inferioriza com a intenção de te monopolizar só pra ela (o famoso ninguém mais vai te aguentar como eu aguento)
Se você identificou alguém na sua vida com a lista acima, corra. Se identificou esses pontos no seu atual parceiro, corra mais longe ainda.
Até a pessoa mais otimista do planeta pode ter sua energia sugada sem perceber simplesmente pela convivência com ideias nocivas de outras pessoas. E com energia não se brinca, viu galera?
Já deu perdido num amiguinho sociopata hoje?
Ser bobo de vez em quando

Me lembro alguns anos atrás, quando ainda patinava com frequência; o parque onde eu praticava já estava fechando e na pista de patinação só haviam eu, uma amiga, e outros dois amigos que comandavam o aluguel de patins. Estávamos patetando enquanto eles arrumavam tudo pra ir embora, e eu particularmente já tinha uma tristonhice no rosto porque o dia seguinte seria uma segunda-feira e eu ainda não me sentia pronta pra encarar uma semana pesada. Eis que começa a chover forte na pista, bem do nada mesmo. Minha amiga me puxou pra dançar, correr, passar pelas poças maiores, tudo de patins. Me senti renovada depois, mesmo que por algo tão bobo. E essa dica vale pra muitas coisas, como dançar sozinho no quarto, cantar como se estivesse sendo julgado no X-factor no chuveiro, até arrumar o guarda-roupa ou fazer uma maquiagem artística de zumbi usando estojo de maquiagem da barbie. Já foi um amendo-bobo hoje?
Visualize os resultados

Ás vezes eu to bem ruim pra dar início ao meu dia, sério. Tenho coisas pra fazer, lugares pra ir, mas tudo me parece inútil já que eu não me sinto inspirada nem motivada e provavelmente vou fazer errado mesmo. É aí, que eu enterro um pouco o processo, e me foco no resultado. Tenho uma prova pra fazer, mas me sinto muito estúpida pra estudar e ter algo saindo disso. Mas, se eu tentar mesmo assim, não vou ter nada a perder e ainda posso suceder e ainda entrar de férias mais cedo. (Exemplo que parece ter sido tirado de livro infanto-juvenil, mas na verdade saiu de mim, palmas) Funciona da mesma forma quando não me sinto inspirada pra fazer uma ilustração que preste, ou ir fotografar um look pro blog porque a auto-estima ta lá no submundo, ou de começar outra faculdade mais específica com medo de eu não ser boa o suficiente. Visualizo o e se. E se ficar bacana? E se der certo? Vai que rola? O que eu vou perder tentando? 
Já foi fotografar aquele look babado pro blog hoje?
Evite se comparar

Como indivíduos, somos diferentes e portanto existimos de forma distinta nessa bolinha chamada Terra. Se comparar não seria válido mesmo se sua história, bagagem, habilidades, dentre outros, fossem os mesmos que os de outra pessoa, porque quem você é em personalidade, caráter, sentimentos e particularidades continuarão sendo diferentes. Já me peguei triste me comparando com outras pessoas mais novas mas que já realizaram muito mais coisas que eu. E adivinha no que isso mudou minha motivação? NADINHA – Na realidade pode haver uma piora, e isso é tão infundamentado que chega a ser triste, galera. O que pode funcionar? Se recompensar sempre que conseguir atingir uma meta. Seja você porque ninguém mais vai ser, tudo em seu lugar, sua hora, e seu canal. Já se deu um mimo por ter realizado uma tarefa hoje?

Chorar

AFF Suelen, tava indo tão bem, pera que vou colocar Evanescence no sonzinho e já venho pra ler essa maracutaia.
Parece totalmente o contrário do propósito do post, mas analisando só um pouco, podemos ver que não é; inserir otimismo e boas energias no seu dia difícil é uma coisa feita por etapas se você não for suscetível naturalmente a ver o lado bom da vida com facilidade, como tia Suu aqui. E a primeira etapa, quando a coisa estiver bem feia mesmo, é extravasar. Chora!
Põe pra fora, para de fugir do que você vem desviando desde o início do dia na esperança de que ignorando, essa vibe fosse desaparecer.  Não tem nada de errado com isso. Somos todos humanos, portanto não somos simples, somos seres muito complexos. Então se em certo momento você sente que vai transbordar mas fica segurando porque tem medo de parecer fraco; deixa fluir.
Fluiu? Tá mais leve? Ótimo! Agora é só voltar e praticar os tópicos anteriores e ver qual deles funciona melhor pra faiscar essa lindeza interior que você tem escondidinha pra ninguém ver. 

Infelizmente a vida de ninguém é perfeita. Todos lidamos com ela da forma que conseguimos. É importante encontrar uma forma que vá te fazer bem, afinal há pessoas na sua vida que te amam mais do que você imagina ou mais do que elas deixam transparecer, e a vida delas sem você nunca seria a mesma, assim como o mundo também não seria. Por isso, antes de pensar em formas radicais de amenizar suas dores, procure olhar pra frente. Olhe pra si mesmo e procure sua faísca. Quando chover, sinta a água lavar de toda energia negativa a alma e o coração. Quando escurecer, procure as estrelas. Quando vier o sol escaldante, corre pra sombra porque sério, faz mal pra pele. E se for manauara então, dentro de casa já vai pegar uns bronze.

E também, aos floquinhos que precisarem, mini-suu e seu divã estão aqui pro que vocês precisarem sempre!

Tó aqui uma das minhas faíscas só pra você! <3 Só cuidado pra pegar na pontinha do cabo porque esse trem me queimou umas 3 vezes. Mas foram queimaduras positivas, ok? Ok.

Agora levanta a poeira e mantenha em mente que você é único e especial da sua maneira no mundo, e se os dias iluminados não vierem sozinhos, ilumine-os você mesmo com uma faísca positiva e insista sempre na ignição.

Esse post foi feito para o primeiro desafio do We Love Fashion Blogs 3, da Petite Jolie e Zattini! A partir do dia 2 de Outubro, ele vai estar para votação junto com os outros blogs participantes, pra que eu continue na competição e passe pra próxima fase. Se você gostou desse post, clica aqui e vota na tia Suh! <3


Beijos faiscantes!

Disclaimer: Todas as fotografias usadas neste post são autorais e não é permitido seu uso para fins lucrativos ou pessoais.

Suelen Cosli

Carta para Nicole

01fev

Acho que esse texto ficou um pouco pesado. Mas como prometi pra mim mesma que ia voltar o blog a ser um pouco mais pessoal como era antes, eu quis escrever isso aqui mesmo assim. Porque seria injusto alguém que foi grande parte da minha vida não ter qualquer dedicatória num lugar que eu amo tanto como aqui. Então vou cortar o post bem aqui e, quem quiser, pode clicar no “Continue lendo…”, quem não, pode seguir adiante.


São 7:07 da manhã de um domingo. Do primeiro dia de fevereiro de 2015. O primeiro dia depois do fim do pior mês que eu já tive de suportar. São 7:07 da manhã, e eu senti um impulso irresistível de levantar mesmo estando escuro (acho que vai chover, pra piorar tudo) pra escrever isso pra você.

Você chegou pequenininha nessa casa, quase 12 anos atrás. Cachorro novo sempre é a alegria da casa, mas costuma ser esquecido – ou melhor dizendo, acostumado a família e acaba sendo “mais um” já que a novidade uma hora passa.

Mas você não. E nem a Dolly.

Se vocês duas se tornaram alguma coisa, foi o centro das atenções por aqui. Minha família sempre foi doida por animais – nosso lado da família pelo menos, então essa situação foi esperada e natural. E como deve lembrar, isso me irritou várias vezes. Que família deixa até de sair pra passear pra não deixar as coitadinhas das cachorrinhas sozinhas em casa? Nossa, me irritava muito. Só que nunca a irritação foi com você, é claro. Era impossível ficar irritada com você.

Afinal quem consegue ficar irritado com alguém que nunca fica irritado com você? Parece injusto. Mas cachorro é assim mesmo. Basta fazer um olhão de quem não sabe o que está acontecendo e puff, a bronca some e a dó aparece.

O quarto tá tão frio agora que é estranho. Estranho porque numa hora dessas, eu estaria levantando pra desligar o ar condicionado, já que a Mika não pode ficar com muito frio, e era capaz eu demorar pra reconhecer o tanto de frio que tá, porque quando eu acordo você normalmente tá aninhada no meu pé me fazendo passar calor. Mas a Mika não tá mais nesse mundo, já faz uma semana, pra eu ter que levantar da cama.

E agora, há dois dias, nem você.

É um clichê danado, mas é necessário; a vida é como uma pessoa birrenta e bipolar. Pode mudar do melhor pro pior a qualquer momento, e vice-versa. Sem aviso. Sem motivo. Apenas “porque sim, e dane-se você que não pode me impedir”. Porque foi exatamente isso que eu meio que ouvi, nessa quinta-feira passada, quando o veterinário nos informou que o que você tinha no fígado era uma neoplasia.

Câncer. Ele quis dizer câncer.

Você já tava sofrendo bastante fazia quase um mês. Visitas intermináveis em três veterinários diferentes, muitos remédios todos os dias, e nem sinal de melhora. Mas nós ficamos pensando positivo. Havia a possibilidade de ser uma neoplasia, sim, mas também podia ser duas outras coisas que agora já não me lembro os nomes. E nem ligo. Não dava pra ter certeza porque pra isso era preciso uma biópsia. E como você era cardíaca, era inviável passar por cirurgia agora.

Ficamos torcendo pra ser uma das outras duas. Qualquer uma, sério. Porque elas ainda tinham jeito. Mas só o fato de nesse dia, justo nesse dia, a Dolly que sempre quis distância de você a maior parte do tempo (aquele tipo de casal de irmãs que se engalfinha em fúria só ao toque das duas), ficar te seguindo pela casa e deitando do seu lado onde quer que você deitasse… Cara. Cachorro é um bicho mais sabido que gente. No dia eu percebi isso, sim achei estranho, mas queria acreditar que era só uma coincidência. Mas nunca é coincidência.

Quisera fosse.

A Dolly sabia, não é? E ela nem mesmo precisou te ver (ela é cega), em momento algum ouvi vocês latirem. Mas mesmo assim. Ela sabia. A gente aqui se recusando a acreditar, mas ela sabia, que aquela manhã ia ser o último momento de vocês juntas. Que bom que vocês resolveram suas diferenças ou o que quer que fosse antes de tudo acontecer.

Você já devia estar de saco cheio de ter ido no veterinário pra ficar tomando soro já 5 dias seguidos, né? Mas fazer o que, você não conseguia comer mais nada. Então era o soro ou a piora da anorexia que se instalou numa cadelinha que antes costumava ser tão gordinha e tirar meu fôlego toda vez que eu te carregava.

Minha mãe e eu achamos que você tinha tido uma melhora mínima. Estava andando, fraca e cambaleante, mas estava. Na enfermaria, você não queria ficar deitada de jeito nenhum, só queria colo da minha mãe.

Depois você começou a ter maior dificuldade pra respirar, e eu chamei um veterinário de plantão pra te ajudar. Ele, eu imagino, foi o mais sincero de todos os outros. Mandou os enfermeiros trocarem você de cabine pra uma que tivesse o tanque de oxigênio, porque você ia precisar.

Porque você ia “parar daqui a pouco”.

Primeiro eu não entendi o que ele quis dizer, ou pelo menos não quis entender. Minha mãe acho que nem ouviu bem. Quando você ficou com mais dificuldade ainda pra puxar o ar, poucos minutos após a troca de cabine, ele voltou e administrou uma máscara de oxigênio no seu focinho. E minha mãe não suportou, e foi embora pra sala de espera chorando muito. Foi preferível, porque como você deve lembrar, ela tava muito, muito mal. Fiquei até com medo de ela ter um troço. Eu deixei bem claro que não ia te deixar sozinha em momento nenhum. Até porque, a essa altura eu já sabia. Só não queria dizer pra minha mãe.

Eu já sabia o que ele queria dizer com “ela vai parar daqui a pouco”.

Quando você deu parada respiratória eu tive de sair de perto pra dar espaço pros enfermeiros, mas por sorte pouco antes disso eu tive tempo de dizer o quanto eu te amava e que estava tudo bem. Que eu entendia que você precisava ir. Porque eu entendo, de verdade. Que você podia ir sem preocupações, e que a gente aqui ia ficar bem eventualmente.

Você me ouviu, não foi?

Não demorou mais do que um minuto depois disso pra você se deixar ir. Não me entenda mal, mas ver a vida indo embora dos seus olhos (literalmente, é um fenômeno visível. Os reflexos param e os olhos parece que aumentam de tamanho e ficam opacos.) é uma cena que vai me assombrar ainda por muito, muito tempo. Eu nunca tinha visto ninguém morrer antes, assim bem na minha frente. E até agora não sei como consegui ficar ali vendo.

Na verdade, eu sei sim.

Me propus a passar por isso porque eu te amo demais pra te deixar sozinha. E você ia ficar com muito medo se a última coisa que visse quando a luz apagasse fosse o jaleco de um médico que você nunca tinha visto. Então dito e feito. Eu sei que a última coisa que você viu, foi o meu rosto. E isso, como eu disse, vai me assombrar pra sempre, mas não me arrependo nem um pouco.

Você já não estava mais aqui quando, depois que todos os enfermeiros se afastaram, eu me aproximei do seu corpinho e te dei um beijo na bochecha ossuda. Mas só por via das dúvidas, caso você estivesse por perto. Eu sei que você deve ter me escutado, de novo.

“Vai com Deus. Vamos te amar pra sempre.”

Você morreu em torno das 18:00 da sexta-feira, dia 30 de Janeiro. Morreu, mas virou estrelinha.

Minha mãe passou muito, muito mal, e nem conseguiu dormir no apartamento nessa noite, porque todo lugar que ela ia lembrava você. Ela passou o dia seguinte inteiro chorando também. Quando liguei pra ela outras vezes, ela ainda carregava muito pesar na voz e não tardava muito pra ela começar a chorar de novo. Na noite que você foi, eu me recusei a chorar mais que algumas poucas lágrimas na frente dela, porque não queria deixá-la pior. Tive até que voltar dirigindo o carro dela, e falando o tempo todo que você estava num lugar melhor agora, que você estava bem. Ela disse que eu sou muito forte nessa noite. Mas eu não sou. Eu só consegui tirar uma força incabível não sei da onde pra me controlar e fingir que era forte, pelo bem dela e da minha avó, que ia ouvir a notícia por mim. Eu segurei tudo nas costas, por você e por elas. Desabei um pouco quando, na mesma noite, consegui ficar sozinha no meu quarto, mas só por alguns segundos. Até hoje ainda não consegui tirar tudo do peito, exceto como to fazendo agora enquanto escrevo isso pra você.

Hoje é nosso segundo dia sem você, e mais tarde será a terceira noite.

Antes de bater 6 da manhã hoje, minha avó veio me acordar perguntando onde você tava. Lembrei ela de que você tinha ido embora. Não sei se você viu, mas da primeira vez que contamos na sexta-feira, ela chorou um pouco, mas depois ficou mais ou menos bem. Acho que a ficha não havia caído.

Mas o que foi de cortar o coração mesmo, foi nessa manhã. Ela já tinha esquecido e sido lembrada outras vezes na sexta e no sábado também, e todas as vezes ela lembrou com um “ah é mesmo! poxa vida…”. Mas dessa vez. Só dessa vez. Ela não lembrou. E foi como se tivesse escutado pela primeira vez. E desatou a chorar como não o fazia há anos.

Experimente ter de lembrar um ente querido seu, que possui Alzheimer, a cada meia hora de que alguém querido pra vocês dois, faleceu. Não é exatamente fácil pra nenhuma das duas partes.Então é, tá bem difícil agora sim. E ainda vai ficar difícil por algum tempo. Mas pode ficar despreocupada; eventualmente, nós ficaremos bem. Não vamos superar, nunca. Mas ficaremos bem.

Ontem eu ouvi uns trovões de chuva chegando, durante a tarde. Doeu demais, porque a cada trovão, durante 11 anos, você vinha correndo em pânico pro meu colo ou pro da minha mãe. E dessa vez, esperar você vir foi horrível. Porque você não veio.

Minha avó fica falando, em meio aos soluços do choro, “não sei por quê eu fui ter cachorro, só pra sofrer desse jeito…” mas não leve ela a mal. Nós sabemos, e no fundo ela também sabe, que tem sim um por quê de ter um cachorro. Você deu tanta alegria pra todos nós, até pra quem não conhecia você e só queria te fazer um carinho em meio aos passeios, durante longos 11 anos. Isso não tem preço. E por isso, vamos ser todas eternamente gratas. E pode ter certeza que vamos te amar pra sempre também, aí onde você está mesmo. Porque você foi nossa cadelinha, mas nós também fomos suas humanas. E olha que pra conquistar alguém assim, pelo resto da vida, sem nunca ter dito uma palavra não é fácil não, viu? Quer dizer, pra você foi. Bicho é assim mesmo. Bicho toca no coração com tinta permanente nas garrinhas.

Ainda bem.

Eu sei que você não sabe ler, porque né? Espero que tenha uma boa alma (péssimo uso de expressão) aí que possa ler isso pra você.

Te amo muuuuuito. Por favor esteja bem, esteja feliz, esteja livre de todas as centenas de dores que você tinha em terra, e mais importante – espera pela gente.

PS: A Mika tá por aí, provavelmente se escondendo de você.
PS²: São agora 08:39 da manhã e começou a chover.

Suelen Cosli